Gestão de Crise – Do Conceito à Aplicação

A importância da Gestão de Crise

por Elise Brites / 6 de abril de 2020

INTRODUÇÃO

Segundo Platão, não devemos e nem podemos esperar por uma crise para descobrirmos o que é importante em nossas vidas, por esse motivo, escrevi o presente texto sem o objetivo de esgotar o assunto, mas com a intenção de trazer alguns aspectos inerentes à gestão de crise, tendo em vista a grande utilização da expressão nos últimos dias.

Confesso que, ao abordarmos o tema “gestão de crise”, as incertezas logo vêm à tona, posto que qualquer nação, por mais sólida que seja, poderá estar sujeita às situações críticas, sejam de imagem, sejam econômicas e assim por diante.

De início, trataremos da distinção, simplificada, dos termos “gestão” e “crise” para que possamos construir uma reflexão mais segura.

1 – CENÁRIO DA GESTÃO

A entonação da palavra “gestão” expressa administração, gerenciamento de uma dada instituição, de uma empresa, de um país, de uma entidade social de pessoas, que necessitam ser geridas e administradas.

A gestão, quando eficientemente aplicada, leva ao crescimento e resultados promissores, pois estabelece procedimentos e métricas para que o esforço humano conjunto e organizado reflita os objetivos e os valores especificados, gerando abundância e prosperidade aos empreendimentos públicos e privados.

Ainda que estejamos falando de uma gestão individual, onde nós mesmos realizamos nossas tarefas cotidianas, é imprescindível saber como conduzir ações voltadas ao crescimento sustentável de nossas vidas. Assim sendo, diariamente, todos nós realizamos atos de gestão (eficientes ou não).

Nós administramos nosso tempo, nossas rotinas, nossas vidas. Alguns com mais comprometimento e sucesso que outros.

Muitos de nós, por exemplo, possuímos horário específico para acordar e dormir. Temos hábitos rotineiros, escovando nossos dentes; tomando banho; saindo para o trabalho, para o estudo ou para o lazer.

Algumas pessoas, por exemplo, limpam suas casas, em dias alternados; lavam a roupa suja, uma vez por semana; lavam a louça, diariamente; realizam a faxina mensal de seus arquivos, controlam as datas de vencimentos de suas contas; verificam a utilização do combustível de seus veículos; contabilizam as despesas com transporte público, diariamente; vigiam as despesas com água e luz, uma vez por mês; cuidam do abastecimento da dispensa de alimentos, etc.

Todas essas atividades, desde as mais simples até as mais complexas, fazem parte de uma gestão, sejam elas individuais ou, mesmo, familiares.

Aliás, especialmente em nossos lares, onde, por vezes, há mais tarefas do que pessoas disponíveis para realizá-las, a atenção deve ser redobrada para que nada, em nossas rotinas, fique pendente.

Desse jeito, uma pessoa consegue organizar e administrar sua vida profissional, sua agenda de saúde, seu empenho intelectual, sua vida familiar, sua prática religiosa e/ou espiritual, sua situação financeira e assim por diante.

Algumas pessoas administram com o êxito pretendido; outros, não, pois as repercussões de nossas dinâmicas dependem, diretamente, de nosso empenho, programação, conhecimento, preparação, dedicação, foco, ação.

Por esse paralelo entre nossas vidas e uma empresa, ou um país, entendemos que gestão pode ser definida como uma maneira de articularmos estratégias de condução para a obtenção de melhores resultados, partindo de ações que envolvem a organização de processos, o controle das finanças, a administração dos recursos humanos e materiais, e tudo aquilo que é essencial para a sua manutenção.

Note que estamos falando de um conceito amplo, que está conectado a todas as áreas de nossas vidas, seja como pessoas físicas ou jurídicas.

Importante salientar que os nossos resultados só poderão ser promissores se entendermos de gerenciamento e adotarmos ferramentas adequadas de administração que permitam o alcance de um objetivo estabelecido.

A gestão de um ente público e privado, assim, relaciona-se com o estabelecimento de metas, organização de processos, planejamento estratégico, análises de custos, mapeamento de riscos, prestação de serviços ou oferecimento de produtos, compras e vendas (se houver), pagamentos e recebimentos, contratações e demissões, enfim, tudo o que envolve o ambiente de uma instituição pública ou privada.

Todas as áreas dependem de boas práticas específicas de gestão, seja para cuidar melhor das finanças de sua atividade, seja para atender às expectativas de seus colaboradores.

Interpreto que o termo “gestão” pode ser definido como: a atividade administrativa que tem como desígnio, atingir os objetivos de uma instituição pública ou privada de maneira eficaz, por meio da valorização do conhecimento e das habilidades de cada indivíduo.

Por intermédio da gestão, é possível a manutenção da sinergia entre o grupo, os indivíduos, a estrutura e os recursos existentes.

2 – ENQUADRAMENTO DA CRISE

É importante destacar que a palavra “crise”, muito utilizada na política, na economia, na administração, na sociologia, na medicina e na psicopatologia, entre outras áreas de conhecimento, está ligada a um momento de evolução de algum quadro, via de regra, indesejado.

A expressão “crise”, quando traduzida do idioma chinês, para muitos, pode ser invocada para representar “risco” e/ou “oportunidade”.

Sendo ou não uma percepção popular equivocada, esse substantivo que designa instabilidade, quando utilizado em gerenciamento, origina certa apreensão, uma vez que não se limita a afetar uma única área das atividades públicas e/ou privadas, pois pode atingir vários setores, até, mesmo, os estruturais.

Uma instituição que estiver em turbulência, por exemplo, poderá se deparar com:

  • Uma crise econômica, a qual estaria diretamente, mas não exclusivamente, relacionada à redução significativa dos negócios de um dado ente público ou privado, diminuindo receitas e ativos;
  • Uma crise financeira, a qual estaria ligada ao fluxo de divisas (entradas e saídas), em quantidade inferior aos compromissos assumidos;
  • Uma crise patrimonial, a qual poderia ser caracterizada pela existência de um passivo (obrigações e/ou compromissos) superior ao ativo (bens e direitos);
  • Uma crise por conta de desastres, que estariam relacionados, por exemplo, a eventos e acontecimentos que causem algum sofrimento ou grande prejuízo (físico, moral, material, emocional), enquadrando-se, nesse tipo de crise, as contaminações de produtos, as tragédias áreas, as falhas de equipamentos, os acidentes ecológicos, os incêndios, os vazamentos e as explosões;
  • Uma crise por conta de catástrofes naturais, que são as crises causadas por tempestades, enchentes, terremotos, furacões e eventos da natureza, entre outros;
  • Uma crise por conta de ações criminosas, as quais podem ser provenientes de sabotagens, fraudes, hackers, vandalismos e várias outras ações intencionais;
  • Uma crise por conta de boatos (fakenews), que são conectados a acusações da concorrência e empresas rivais, entre outras;
  • Uma crise por conta de questões legais, que estão conectadas aos processos judiciais, não conformidades legais, ausência de cumprimentos normativos e indenizações, entre várias outras;
  • Uma crise de reputação, a qual ocorre quando há vazamentos de informações confidenciais, documentos e dados que comprometem a imagem e conduta do ente, seja ele público ou privado, e assim por diante.

O termo “crise” descreve uma mudança brusca ou uma modificação vultosa no desenvolvimento de certo evento ou acontecimento. Essas mutações podem ser físicas ou simbólicas. Uma crise pode, no mesmo sentido, representar uma situação complicada ou uma situação de escassez.

Um país, várias empresas e muitas famílias podem atravessar diversas crises. O importante é que, com a crise, se obtenha o conhecimento e o crescimento necessários para minimizar os efeitos negativos no momento presente, maximizando as oportunidades para momentos futuros.

No mundo atual, a sociedade global vem enfrentando, nesse primeiro ensejo, uma mudança importante ao tentar desvendar a doença, tópico das manchetes, ocasionada pelo contágio de milhares de pessoas ao COVID-19 (coronavirus disease 2019), que vem ceifando um número considerável de vidas, no mundo.

Como a história mundial nos mostra, várias crises apareceram e foram superadas.

Entretanto, mesmo após longa evolução, ainda nos deparamos com a fome, a miséria, a malária, outras doenças, o que confirma que a crise pode atingir desde o mundo profissional ao financeiro, desde o universo político ao íntimo de cada indivíduo.

As nações, contudo, precisam entender o que representam as crises para obter conhecimentos que possibilitem a todos, a transposição desses e de outros momentos turbulentos.

Ao nos depararmos com as crises, “não podemos deixar ninguém para trás”. A união de esforços e o trabalho coletivo devem ser realizados para limitar a imprevisibilidade, ampliando a compressão de tempo sobre aquilo que ameaça às vidas dos seres humanos.

Por esse motivo, o entendimento sobre a gestão de crise poderá determinar a postura dos países em um desempenho não rotineiro, mas com organização, planejamento analítico especial, treinamentos, comunicação e capacidade de implementação de medidas para ultrapassar os tempos de dificuldade.

Nesses últimos dias refleti muito e, após leitura de vasta bibliografia, conclui que podemos reconhecer uma crise quando uma concepção, uma crença ou uma esperança, que se encontra muito enraizada, se quebra. Percebemos a crise quando o que acreditamos ser, não tem mais validação ou aprovação pelos outros, quando um excelente profissional não recebe o seu aumento merecido, quando os recursos disponíveis são usados para os objetivos errados e em momentos errados.

Notamos um momento de crise quando “tudo começa a dar errado”, não importando tratar-se de finanças, política, área profissional ou pessoal, por meio de uma sucessão de acontecimentos e episódios que podem ser percebidos, analisados e, principalmente, modificados.

A palavra crise é originária do latim crisis, do grego krísis, traduzindo-se pelo ato de separar. Pode significar decisão, julgamento, evento, momento decisivo. Para muitas pessoas, tem a referência contraditória, apresentando uma manifestação violenta, um caso repentino, algo que pode ser breve ou demorado. Arrazoa-se como uma conjuntura socioeconômica problemática, um desequilíbrio entre bens de produção e de consumo, pelo aumento excessivo dos preços, grande desemprego, pelas falências, pelos momentos perigosos, pelos períodos difíceis e de desordem, pelas situações conflituosas, pelas tensões, pelas carências, pelas decadências, etc.

Todo esse aspecto negativo, trazido pela palavra “crise”, pode ser superado se o enfoque for em ultrapassar, com alicerce em uma boa gestão, a desordem, a tensão, o tumulto.

O COVID-19 tem provado que existe, por parte de cada país e da coletividade, uma falta de acordo em meio ao caos, o que resulta em ações comuns de fragmentação, de opiniões adversas, de inimizades, de polarização.

A crise provocada pelo Coronavírus trouxe novos hábitos aos cidadãos mundiais. Há a utilização de máscaras, a higienização excessiva das mãos, o isolamento social, a instituição diária de novos regramentos governamentais, a antecipação de férias de trabalhadores e a demissão em massa de inúmeras categorias profissionais, entre outros.

Para sobrepujar esse e outros momentos de crise, precisamos da conjunção de metas e objetivos, em nível mundial.

Nosso país precisa dissolver os acúmulos de reclamações, brigas, acusações, paralisias, negações, buscando cultivar uma nova e reformulada rede saudável de proximidade. Temos que caminhar, associadamente, para a estabilidade, a sabedoria, a cortesia, o respeito, atuando no problema do COVID-19 , de modo específico, com atenção, lucidez, por meio da concentração de todos os esforços para a preservação do maior número de vidas possível.

Assim, a expressão “crise” pode se transformar em uma OPORTUNIDADE para o aprendizado e reformulação de ações, face a essa e a outras situações de emergência social, provocadas pelo COVID-19, em parâmetros mundiais.

3 – DESAFIOS DA GESTÃO DE CRISE NO BRASIL E NO MUNDO

O gerenciamento de crises pode ser considerado como o processo de identificar, obter e aplicar os recursos necessários à antecipação, à prevenção e à resolução de uma situação adversa. A gestão de crises pode ser narrada como um processo racional e analítico para se resolver situações, em diferentes graus de dificuldades e problemas.

Esse processo racional e analítico é baseado em probabilidades, tendo como objetivo, a diminuição, ao mínimo, dos efeitos e danos, por meio do tratamento de riscos pessoais, financeiros e materiais que possam comprometer desde a imagem do país até sua soberania.

A ameaça, por exemplo, da perda da credibilidade é uma constante em momentos de crise, podendo atingir, no caso de nações, as relações internas e externas que podem prejudicar, sobremaneira, toda a humanidade.

No cenário apresentado pelo Coronavirus, temos nos deparado com diversos efeitos: mudanças de rotinas, isolamento social obrigatório, redução obrigatória das atividades tradicionais de empreendedorismo, proibição temporária de algumas atividades comerciais, suspensão de aulas, aumento ilegal de preços, práticas abusivas na comercialização de insumos e produtos para a área de saúde, etc.

Há setores que estão sofrendo os reflexos da pandemia. Academias de ginástica, cinemas, teatros, eventos, salões de beleza, hotéis, restaurantes, pousadas, casas de câmbio, companhias aéreas, agencias de turismos. Existem pessoas compondo a execução dessas e de outras atividades. São seres humanos que prestam serviços e possibilitam a entrega final de produtos. São pessoas que fazem o mundo girar.

No caso do Brasil, houve uma pré-confrontação para a aplicação do Plano de Contingência, com base na experiência da China, da Inglaterra e de outros países, buscando o estabelecimento de uma curva linear para conter a sobrecarga do Sistema Único de Saúde Nacional.

Com base no conteúdo de Wanderley Mascarenhas de Souza, “Gerenciando Crises em Segurança” (2000), a fase inicial de confrontação para a crise deveria ter sido estudada, de maneira homogênea, pelo Poder Executivo, em conjunto com os Poderes Legislativo e Judiciário. Por meio da Administração Pública, deveria ter sido realizado um planejamento uniforme, com um detalhamento em planos de ação e, somente depois de todos os ajustes, os comunicados em rede nacional deveriam ser feitos.

Porém, de acordo com o que tem sido observado, nessas últimas semanas, as unidades de gestão deixaram de atuar de maneira organizada e conjunta, cada uma decidindo, de forma diferenciada, sobre as estratégias para lidar com o COVID-19. Essa chuva de medidas diferentes gerou uma confusão na população, prejudicando a confiabilidade das medidas adotadas pelo governo. Essa ausência de uniformidade da gestão dos Poderes Executivo Federal, Distrital, Estadual e Municipal tem causado insegurança a toda a sociedade brasileira e mundial.

Por essa simples análise, já se observa que ainda teremos um longo caminho a percorrer, no aprendizado da gestão de crise.

O gerenciamento de adversidades é uma arte, pois possibilita, se bem estruturado, evitar e enfrentar uma crise com a identificação dos pontos de criticidade gerencial, contando todos os obstáculos com uma postura proativa e reativa, que oportunizam, de forma sistematizada, resultados positivos.

Observa-se, pelos atos históricos, desde as idades mais remotas até o presente momento do COVID-19, que os administradores públicos e privados contam com importantes ferramentas para o gerenciamento de crises, tais como as experiências anteriores com acidentes, desastres internos e externos, incêndios, sinistros, epidemias mundiais, cuja probabilidade de ocorrerem jamais deverá ser descartada.

Assim, os gestores podem instituir métodos de prevenção para atuar no gerenciamento de riscos, como um verdadeiro investimento, e não, como custo, mesmo porque os riscos e as crises são uma realidade.

Precisamos de um sistema de gerenciamento de crises avançado com a aplicação de recursos contemporâneos e iniciativas criativas e inovadoras.

Assim, por mais remota que uma calamidade na área de saúde pudesse se apresentar em qualquer horizonte da atividade particular ou pública, por meio de um mapeamento constante e mediante uma avaliação sistemática, os riscos de pandemia, também precisariam ter sido dimensionados, com algumas possíveis sugestões de tratamento, mesmo que incipientes, porém, já idealizadas, diminuindo a incerteza atual vivida.

A despeito da melhor metodologia de gestão de crises, nenhum país, independentemente da sua riqueza, alcançou a capacidade de garantir, a todas as pessoas, acesso imediato a todas as tecnologias e ações que podem ser infalíveis para a aplicação de políticas, principalmente, no que tange aos seus sistemas de saúde.

3.1 – OS DESAFIOS DA GESTÃO DE CRISE TAMBÉM AFETAM O SUS

O Sistema Único de Saúde (SUS), a título de exemplo, é percebido, pelo mundo, como uma estrutura modelo, sendo uma conquista e uma vitória do povo brasileiro; entretanto, nesse momento de CRISE, observa-se que sua consolidação precisa tornar-se uma prioridade de toda a sociedade, sendo mais que um programa de governo; precisa tornar-se uma Política de Estado.

A crise trazida pelo COVID-19, por se tratar de uma disseminação viral que implica, diretamente, na área da saúde, já comprova que o nosso SUS, apesar dos recursos insuficientes, tem grandes avanços com a ampliação da atenção básica, com a criação e o desenvolvimento das Estratégias de Saúde para toda a sociedade. Ainda assim, a dependência do setor privado, para a média e a alta complexidades, continua elevada e problemática.

Conforme preceitua a Organização Pan-Americana de Saúde, a crise contemporânea dos sistemas de saúde reflete o desencontro entre a situação epidemiológica dominada pelos estados crônicos, respondendo somente às circunstâncias agudas e aos eventos decorrentes da exacerbação das condições crônicas, de maneira fragmentada, episódica e reativa, não garantindo, inclusive, a continuidade dos processos assistenciais. Essa desorganização dos sistemas de saúde é gerada pela falha da própria resposta social (OPAS 2010).

A gestão de crises permite, na área da saúde, reconhecer a importância e a grandeza do SUS, bem como a necessidade da sua consolidação, com a busca pela cobertura universal de serviços de saúde, independentemente de riqueza, para garantir acesso imediato a todas as tecnologias e ações que podem melhorar a saúde e prolongar a vida de cada cidadão.

Mesmo possuindo um Sistema de Saúde Unificado (SUS), tido como uma estrutura administrativa referenciada para o mundo, o Brasil ainda é carente. Encontramos problemas de gerenciamentos corriqueiros, tais como: quadro de profissionais desqualificados, agentes públicos desestimulados e sem treinamento, longas filas e longo tempo de espera, desperdício de tempo e insumos, falta de leitos, má gestão financeira, atendimento pouco humanizado, escasso atendimento na emergência, falta de Unidades de Tratamento Intensivo, ausência de fármacos e alto número de mortes, entre outros.

Por esses e outros motivos, o SUS possui desafios homéricos a serem superados, na atualidade, inclusive, pela imprevisibilidade de uma pandemia mundial como sendo um risco tratável.

Cumpre destacar que o trabalho em saúde é muito especial e precisa, necessariamente, ser tratado no nível de expectativa, relevância e magnitude que a saúde representa para todo ser humano, requerendo uma visão ampliada de bem-estar global e qualidade de vida.

Não podemos permitir que esses e outros desafios rompam com a oferta de tratamento adequado e com a preservação de vidas. Necessitamos tratar o problema; precisamos curar a saúde pública e privada de nosso país.

Nota-se, pelo atual Quadro Gestor do Ministério da Saúde, que muitos esforços têm sido intensificados, realçando um olhar, por meio dos exemplos e de lideranças, pedindo apoio ao poder executivo governamental. Esses administradores da pasta ministerial na área da saúde, mediante seus discursos, têm mostrado, à direção de hospitais públicos e privados, que é necessária a união de forças de trabalho, contemplando os objetivos de reduzir mortalidades e de salvar vidas.

4 – A IMPORTÂNCIA DA GESTÃO DE CRISE

Como visto, a gestão de crise não é importante, só para a área da saúde. Ela é crucial para o desenvolvimento mundial.

Costumo comparar a gestão de crise com a direção de um motorista, em uma estrada, a qual pode estar repleta de buracos. Para preservar o veículo, as vidas nele transportadas, e evitar acidentes, quem estiver dirigindo deverá prestar maior atenção na direção e desviar, imediatamente, dos buracos existentes. Uma estrada cheia de perfurações e ondulações representa um perigo, o qual não pode ser ignorado. Não podemos transitar e viajar pela rodovia com indiferença a eles (buracos e ondulações). Por mais que o caminho pareça plano e suave, deveremos estar sempre preparados para não termos surpresas.

O estado de vigilância e alerta não é o mesmo que ser pessimista mas sim, trata-se de estarmos prevenidos/preparados para as eventualidades.

O melhor recurso contra a crise está na previsibilidade e na preparação de rotas de escape.

Carecemos, por oportuno, em muitos episódios, do estabelecimento de planos alternativos, flexibilidade e grande dose de criatividade para enfrentar as situações novas, o que tem nos permitido a convivência com fatores sócio-econômicos flutuantes.

Precisamos, assim, para as mais diversas áreas e setores, seja no Brasil ou no mundo, de projetos de segurança e de gerenciamento de crise, pois um ambiente hostil pode, quando em crise, representar a morte de pessoas e o desaparecimento de nações. Devemos, dessa forma, detectar os riscos e verificar o que poderá ser feito, caso esses riscos venham a se materializar, porque as hipóteses de erros e anomalias precisam ser levantadas, paralelamente, às indagações e ao estudo das melhores soluções, criando, desse jeito, um plano de resolução de problemas e crises que podem aparecer, durante a jornada na busca pelo desenvolvimento das pessoas, dos países e do globo.

Entretanto, algumas vezes, não é possível prever todas as situações; por isso, a gestão de crise é importante para a efetivação e a aplicação de um plano de resolução de adversidades, seguindo diferentes técnicas e processos de gerenciamento de aflições.

Para gerenciar uma crise, há desafios exigidos pelo panorama adverso, tendo em vista uma espécie de “névoa” que dificulta o entendimento da conjuntura, sendo:

· Necessária uma rápida atuação, pois a crise evolui em uma velocidade muito alta.

· Preciso lidar com a imprevisibilidade das consequências, pois nunca se sabe qual é a extensão das repercussões da adversidade.

· Fundamental, também, ter capacidade de tomar decisões, sem o pleno conhecimento de todos os detalhes e de tudo que está, efetivamente, acontecendo.

Significativo dizer que cada seguimento, seja público ou privado, possui sua particularidade, não podendo haver uma fórmula padrão e limitante para a gestão de crises.

Uma empresa de alimentos, por exemplo, precisa de um plano para solucionar uma possível conjuntura de contaminação de seus produtos ou, mesmo, de atentado, quando alguém, de maneira intencional, envenena os produtos com o objetivo de destruir a marca dessa empresa.

As empresas aéreas, em outro exemplo, possuem um plano de gestão de crise, para atrasos de voos em “cascata” (subsequentes), nos aeroportos. Os fabricantes de veículos automotores também possuem política de recall para reparo de veículos com defeitos.

Cada organismo deve identificar suas fragilidades e criar formas para minimizar os efeitos dessas vulnerabilidades, quando forem atingidas por circunstâncias anômalas.

Ainda que as instituições públicas e privadas sofram incidentes, elas não devem sofrer com imprevistos, pois é necessário investir tempo e dedicação para um mapeamento dos elos mais fracos, possibilitando o adequado planejamento. Além disso, todo sistema administrativo pode criar grupos especializados e treinados para agir em momentos de crise, estabelecidos de maneira permanente, independentemente do seguimento de atuação.

Embora nem todas as soluções possam ser preparadas, não podemos deixar ao acaso, o gerenciamento de tribulações, esperando que uma crise aconteça, para decidir o que fazer. O gestor deve nortear seus esforços não só com a direção dos ventos mas com a localização do objetivo final, sabendo qual será o seu destino.

Devemos atuar na máxima preparação.

Gestão de crise não é neurose e sim, precaução!

5 – CONCLUSÃO

A gestão de crise, bem estruturada, permite a emissão de uma radiografia da imagem do problema instaurado. Proporciona uma visão de dentro para fora, trazendo, de forma evidente, qual o exato quadro da adversidade, bem como a necessidade de auditoria continuada. Possibilita o desenvolvimento de uma versão sintética dos princípios da organização, direcionados a sua missão. Oportuniza a definição do conceito de crise para o ente público ou privado, com a finalidade de limitar ou ampliar o campo de ação do plano de administração, em tempos de crise.

Um bom gerenciamento de crise, também estabelecerá os tipos de crise que uma instituição pública ou privada poderá enfrentar, englobando quem serão os integrantes do grupo de administração de crise, suas posturas e competências de atuação, quando a crise estiver instaurada.

Caso a crise não tenha o tratamento adequado, toda a população poderá sofrer com as consequências da imprudência e da ausência de atos de gestão. Se uma crise for mal administrada, poderá prejudicar a credibilidade e a imagem de todos os envolvidos.

Aproveito esse momento de finalização desse texto reflexivo para trazer um comentário, segundo consta, de Albert Einstein:

“Não pretendemos que as coisas mudem, se sempre fazemos o mesmo. A crise é a melhor benção que pode ocorrer com as pessoas e países, porque a crise traz progressos. A criatividade nasce da angústia, como o dia nasce da noite escura. É na crise que nascem as invenções, os descobrimentos e as grandes estratégias. Quem supera a crise, supera a si mesmo sem ficar ‘superado’. Quem atribui à crise seus fracassos e penúrias, violenta seu próprio talento e respeita mais os problemas do que as soluções. A verdadeira crise é a crise da incompetência… Sem crise não há desafios; sem desafios, a vida é uma rotina, uma lenta agonia. Sem crise não há mérito. É na crise que se aflora o melhor de cada um…” Albert Einstein

Toda crise deve ser visualizada como um incêndio, ou seja, o seguro, as rotas de fuga e demais alternativas para o evento devem estar previstos em um sistema de contingenciamento, pois um incêndio pode por um ponto final nas atividades da gestão pública ou privada. Quando trabalhamos com previsão, permitimos que vidas possam ser salvas

Não há espaço, na gestão de crise, para negligências.

Fato é que nenhuma pessoa física ou jurídica está totalmente preparada para as adversidades do COVID-19; mesmo assim, poderá construir mecanismos para amenizá-las, estabelecendo diretrizes para esses momentos.

Nota-se, pelo conteúdo exposto, que, no Brasil, a cultura de prevenção às crises ainda tem muito o que avançar, mas quem já utiliza ou já precisou do Gerenciamento de Crise, encontrou ferramentas para estar mais bem preparado.

O gerenciamento de crise é um aprendizado contínuo e constante, pois ninguém estará a salvo das crises por tê-lo mas, certamente, o gestor que o detiver, terá um desempenho muito mais eficiente e eficaz.

Escrito por: Elise Brites

REFERÊNCIAS

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